Assim seja!
“Can you give me sanctuary?
I must find a place to hide,
A place for me to hide…
Can you find me soft asylum?
I can´t make it anymore,
The man is at the door.”
The Soft Parade, The Doors.
És dissidente de algo… Terás culpa? Lembras-te de como era doce aquela pueril certeza infantil? Mas agora... Agora a questão devora-te e pressentes que necessitas imperiosamente de uma resolução.
Em tua errante busca, bates a uma porta: “Tendes a resposta?”, dizes e obténs a seguinte réplica: “Temos, o nosso preço é razoável, considera: não queremos mais do que a tua liberdade.” Insatisfeito, tu recorres a uma segunda porta e dizem-te: “Aqui exigimos apenas teu sangue e suor.” Atônito, e sob a soleira da terceira parada, ouves: “Nós desejamos somente os teus sonhos.” Tomado de desconfiança, tu indagas se tal preço não é demasiado caro, e assim te respondem: “De que vale teu sonho isolado e não-nosso? Nós somos os eleitos!”
Se a ti fosse dada pelo menos a facilidade de eleição de uma causa primeira, tal como acontece com os homens de ação! Mas... Não! Não queres absolutamente a obediência obtusa que, pela própria natureza de sua limitação, impossibilita o vislumbre do diferente. Ai de ti, infeliz herdeiro do sacrifício de Prometeu! Vieste ao mundo com a semente do questionamento, foste dotado de uma consciência hipertrofiada! E sabes que assim caminharás sozinho, pois à pergunta que te desafia, ninguém poderá dar-te a resposta. Ademais, tu mesmo não poderás senão intuí-la. Compreendes, tu, por que não adotaste a fé em comunidade? Decerto que a subserviência é ainda mais angustiante, bem como o exclusivismo, a pretensão a uma superioridade legitimada e a intolerância não fazem o menor sentido. A não ser que – e, se assim for, estás desde já condenado – o Senhor seja exclusivista. Neste caso, poderias até inventar o Teu. Entretanto, tão logo esta idéia nascesse, cessaria de viver: tu sabes que o que hoje constitui o anúncio de um lindo exercício de respeito, liberdade e compreensão, amanhã se tornaria apenas mais uma forma de exclusão, sob a égide da ortodoxia intolerantemente ‘idônea’.
Sabes que a taça que hoje ostenta a inscrição: “Esperança” poderá adornar-se da palavra: “Mistério” no porvir, assim como não ignoras que jamais poderias dispor da liberdade dos homens, e assim procederias não por fraqueza ou capricho, mas pela convicção inabalável, proveniente de um notável esforço de compreensão e amor, segundo o qual a nenhum homem é concedido o direito de se manter por meio das dores e dos sonhos de outros homens. Por toda a posteridade, assim seja!
Gustavo Morais Barros.