segunda-feira, 31 de maio de 2010

Assim seja!

“Can you give me sanctuary?
I must find a place to hide,
A place for me to hide…

Can you find me soft asylum?
I can´t make it anymore,
The man is at the door.”

The Soft Parade, The Doors.


És dissidente de algo… Terás culpa? Lembras-te de como era doce aquela pueril certeza infantil? Mas agora... Agora a questão devora-te e pressentes que necessitas imperiosamente de uma resolução.
Em tua errante busca, bates a uma porta: “Tendes a resposta?”, dizes e obténs a seguinte réplica: “Temos, o nosso preço é razoável, considera: não queremos mais do que a tua liberdade.” Insatisfeito, tu recorres a uma segunda porta e dizem-te: “Aqui exigimos apenas teu sangue e suor.” Atônito, e sob a soleira da terceira parada, ouves: “Nós desejamos somente os teus sonhos.” Tomado de desconfiança, tu indagas se tal preço não é demasiado caro, e assim te respondem: “De que vale teu sonho isolado e não-nosso? Nós somos os eleitos!”
Se a ti fosse dada pelo menos a facilidade de eleição de uma causa primeira, tal como acontece com os homens de ação! Mas... Não! Não queres absolutamente a obediência obtusa que, pela própria natureza de sua limitação, impossibilita o vislumbre do diferente. Ai de ti, infeliz herdeiro do sacrifício de Prometeu! Vieste ao mundo com a semente do questionamento, foste dotado de uma consciência hipertrofiada! E sabes que assim caminharás sozinho, pois à pergunta que te desafia, ninguém poderá dar-te a resposta. Ademais, tu mesmo não poderás senão intuí-la. Compreendes, tu, por que não adotaste a fé em comunidade? Decerto que a subserviência é ainda mais angustiante, bem como o exclusivismo, a pretensão a uma superioridade legitimada e a intolerância não fazem o menor sentido. A não ser que – e, se assim for, estás desde já condenado – o Senhor seja exclusivista. Neste caso, poderias até inventar o Teu. Entretanto, tão logo esta idéia nascesse, cessaria de viver: tu sabes que o que hoje constitui o anúncio de um lindo exercício de respeito, liberdade e compreensão, amanhã se tornaria apenas mais uma forma de exclusão, sob a égide da ortodoxia intolerantemente ‘idônea’.
Sabes que a taça que hoje ostenta a inscrição: “Esperança” poderá adornar-se da palavra: “Mistério” no porvir, assim como não ignoras que jamais poderias dispor da liberdade dos homens, e assim procederias não por fraqueza ou capricho, mas pela convicção inabalável, proveniente de um notável esforço de compreensão e amor, segundo o qual a nenhum homem é concedido o direito de se manter por meio das dores e dos sonhos de outros homens. Por toda a posteridade, assim seja!

Gustavo Morais Barros.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Antes, eu dormia, sem saber
Que uma flor se escondia dentro do meu seio...

Não sabia que a verdadeira beleza
Era o sacrifício das flores que se desvanecem aos poucos ...

Não sabia que a verdadeira vida
Não eram as cores, nem a música, nem a luz do sol que cintila !
Não era nem o teu sorriso, nem era tampouco o teu delicado toque...
Não era o teu calor, nem a suavidade do teu abraço!

Mas sim o frio da noite, com tuas estrelas
A distância de nunca mais poder te ver, de nunca mais poder te tocar...
Estas lágrimas que escorrem de minha face, como estrelas cadentes...
Que riscam o céu uma vez e ... nunca mais!

A verdadeira beleza não eram os teus olhos
Brilhantes com o amor puro que nada pede...
Não era o teu toque, que me protegia em meu medo
Não era sequer o teu carinho, tão intenso e ao mesmo tempo tão suave...

A verdadeira vida não era este instante, nem sequer esta paz
Gotas espargidas de esperança, orvalho, também não era...
Não era cousa alguma, nem das que foram ditas,
nem sequer das que foram sonhadas...

A verdadeira beleza, oh minha noite escura
Minha madrugada sem luz
Era a tua viagem
Na escuridão do nada, sem o temor de fantasmas
Sem o temor da morte, sem o temor do fimSem o temor da fome, sem o temor da solidão.
Tu eras a flor, a flor dentro do meu coração
Um único desejo te fez atravessar todos os infinitos
Nada pedir, nada querer, e nada conquistar.
Tu eras a beleza, tu eras a vida
Renunciando a tudo por apenas um desejo
Abandonar toda a eternidade por apenas minha voz
Renunciar a si mesmo por minha felicidadeApenas isto desejar...

Oh Lume! Agora eu posso cantar!
E minha voz ressoa por todos os cantos
Mas onde tu existes, não sei onde estas?
Será que minha voz pode te alcançar?

Oh Lume! Agora eu posso brilhar!
E minha luz cintila entre as terras junto a lua prateada
Mas onde estão os teus olhos, não sei onde estas?
Será que minha luz pode te alcançar?

Oh Lume! Estremece a gota alada
Escorre em minha face, delicada lágrima
Agora eu entendo, esta beleza, e esta vida
Eu sinto que somos um, como o dia e a noite
E que um dia iremos nos reencontrar...

Luciano Moraes